Tomás Baltazar entrevista Léo Liotard, realizador de “It’s Party Time”

Como surgiu o desejo de ver, processar e montar imagens de arquivo, e como te focaste nesse limbo entre a adolescência e a maioridade?

No liceu, éramos fãs dos filmes de Jim Jarmush. Uma noite, após a rodagem de uma ficção, filmámo-nos a fumar charros e a ouvir música. Na caixa dessa cassete, escrevi: “Brutos n°1”. Seguiram-se outras cassetes. Filmei a minha vida durante alguns anos, os meus amigos, momentos do quotidiano, festas, às vezes nada. Um dia, fui morar para Bruxelas e deixei de viver assim. O filme conta a história de algumas pessoas, na passagem dos dezasseis para os vinte anos, porque foi só o que filmei. Anos depois, um desses amigos morreu. Precisei rever essas imagens.

 

Naturalmente, a distância do tempo moldou uma nova perspectiva, existe uma panóplia de celebração no filme mas, ao mesmo tempo, há uma introspecção reflexiva, onde a dúvida assume um lugar primordial. Poderíamos considerar It’s Party Time, paradoxalmente, como um autorretrato colectivo?

Tentei construir o filme algures entre um trabalho sobre o íntimo (um aprendiz de cineasta que filma os seus amigos) e uma espécie de objeto antropológico: um testemunho sobre um grupo de jovens sempre em festa, em França, no final dos anos 1990. Eu e o montador percebemos que a minha presença enquanto jovem adulto e solitário era importante. A festa é uma metáfora; há sempre um momento, antes e depois, em que vamos para casa sozinhos, em que nos questionamos. Não creio que o filme seja um retrato de uma geração, ou de uma época, mas talvez seja um filme que questiona. Nos primeiros visionamentos, algumas pessoas começaram a falar-nos da própria juventude, o que nos deixou satisfeitos.

 

A ideia de festa está presente em muitas ocasiões. Será que o espectador testemunha uma espécie de atracção pelo abismo?

Há uma ideia constante de um fim, como se algo fosse recomeçar. Há uma espécie de passagem no filme entre momentos colectivos, festas – fumamos, ouvimos música – e momentos, anos depois, em que começamos a conversar uns com os outros, procurando dar sentido às coisas. Há cenas em que falamos de amor. Durante muito tempo, achei que um dia seria capaz de fazer um filme sobre miúdas e miúdos. Sempre que tentei, foi sempre depois de alguma história, para consertar qualquer coisa. Passaram-se vinte anos. Muita coisa muda. Fiquei surpreso quando percebi que, por fim, o filme que fiz na minha vida é um filme sobre amizade. Adoro os meus amigos.