Purple Sea

“Vejo tudo”, diz ela, como se fosse uma maldição. O sol a brilhar, o céu azul. O mar está calmo. Zumbido de vozes. Um frenesim de imagens, rodopios, cabeça para baixo, sacudidelas. Pessoas no barco, na água, gritos, coletes salva-vidas, apitos de emergência. Laranja fluorescente. Deixa de haver horizonte, céu, cima e baixo, só profundidade e nada a que se agarrar. Ela está a filmar e a falar. Com ele, com ela própria, connosco, talvez. Vão-se foder todos! Ela fala, enfurece-se e filma, para vencer o cansaço, o frio, o facto de não haver ajuda a caminho. Para vencer a morte, só para que reste alguma coisa.