Entrevista a Maria Simões e Tiago Melo Bento, realizadores de “Luana”

Cabo Polónio é considerado o lugar mais inóspito do Uruguai. Como chegaram a este sítio e o que sentiram nesse primeiro encontro?
Quando viajas pela América do Sul, as coincidências deixam de ser coincidências. Dás importância ao tempo vivido de outra forma, aos encontros imprevistos, às palavras nas entrelinhas, aos acasos. Na procura por uma ligação açoriana àquele país e antes de ter chegado ao conhecimento de que a cidade de São Carlos tinha sido povoada por famílias açorianas, uma uruguaia disse-me: Tens que conhecer Cabo Polónio. Dois dias depois estava lá. A decisão de filmar ali para não esquecer nunca e também para melhor compreender e depois partilhar aquela realidade virou então uma certeza e uma urgência.

 

Exploramos a paisagem com a mesma sensibilidade de Luana. De que maneira trabalharam a maneira de ver aquele lugar?
Colocámo-nos muitas vezes no lugar da Luana, ou pelo menos tentámos. E perguntávamo-nos frequentemente o que era afinal a infância e o que era ser criança num lugar assim. Era sociológica a nossa curiosidade mas esta foi, inevitavelmente, invadida pelas emoções da vida mesma, ela própria, com a humanidade presente num lugar que é muito mais natureza e paisagem do que humano.

 

A paisagem, a casa, os animais. Como pensaram a montagem do filme e a interação entre estes vários elementos?
Que fluíssem sem se atropelar, como realmente os vivemos. Que a montagem respeitasse de forma honesta exactamente o vivido e sentido. Ao olhar as imagens, tantos anos depois de filmadas, são elas que nos contam o que aconteceu enquanto ali vivemos.