“O cinema documental está em franco crescimento em Espanha”

O director geral do ICAA – Instituto de la Cinematografía y de las Artes Audiovisuales, Ignasi Camós Victoria, faz um retrato do sector do documentário. Espanha é o País Convidado do Doclisboa 2024.

Em 2003, o documentário “La pelota vasca” foi o centro de uma enorme polémica que viria a gerar a polarização da opinião pública e mobilização política contra e a favor dessa produção cinematográfica que abordava a situação socio-política do País Basco. No ano seguinte, Casimiro Torreiro escreveu, para o Doclisboa, que, até ao momento, desde os anos 90 que “o documentário era um fenómeno de minorias”, com um impacto comercial “irrelevante”. Como tem evoluído o contexto do documentário em Espanha?

O cinema documental está de muito boa saúde e em franco crescimento em Espanha. No âmbito do SSIFF San Sebastian International Film Festival, realizámos um debate para avaliar os pontos fortes e fracos do sector do documentário em Espanha, tendo em conta que se trata de um campo em clara expansão.

Os cineastas espanhóis alargaram os seus horizontes e começaram a trabalhar em novos formatos, temas e narrativas de não ficção. Actualmente, a oferta de produtos documentais e de não-ficção é tão vasta e rica como a da ficção em Espanha.

Além disso, o Ministério da Cultura espanhol concede um apoio específico à produção de documentários. Concretamente, oferecemos uma linha de ajudas à produção de longas-metragens com especial valor cinematográfico, cultural ou social, de carácter documental ou experimental, que favoreçam a incorporação de novos cineastas e a utilização de tecnologias inovadoras, e que combatam as desigualdades de género. Especificamente, estas subvenções atribuem entre 15% e 25% do orçamento, de um orçamento total de 30 milhões de euros, a projectos de documentário.

A propósito disso, em que pode a cooperação entre Portugal e Espanha contribuir para uma evolução favorável da indústria de documentário?

Portugal é o nosso país vizinho e, por isso, parece-nos orgânico coproduzir com os países limítrofes com os quais partilhamos caraterísticas culturais e naturais (locais, etc.). Acreditamos que podemos ser aliados muito fortes, como demonstram programas como o Ibermedia, em que estas alianças já são uma realidade.

Qual a importância de espaços de desenvolvimento de projectos que cruzam fronteiras, como é o caso do projecto de residências promovido pela Apordoc, RAW: Arché->Work, que propõem aos seus participantes ibero-americanos e italianos a participação em oficinas nos festivais Doclisboa (Lisboa) e Márgenes (Madrid)?

No ICAA, acreditamos firmemente nos laboratórios de desenvolvimento transfronteiriços como uma plataforma de lançamento para novos talentos. Consideramos essencial ter o ponto de vista de profissionais de outros países, neste caso da região ibero-americana, que contribuem sempre com novas componentes culturais e narrativas. Da mesma forma, as oficinas de desenvolvimento são uma parte essencial da profissionalização de um sector-chave das indústrias culturais.

No âmbito da iniciativa “Portugal – España. 50 años de cultura y democracia”, e em estreita colaboração com o ICAA, o Doclisboa promoverá uma conversa dedicada aos arquivos domésticos e à forma como estes espelham, e até moldam, a identidade e história de um país. Que outras iniciativas tem o ICAA preparadas no âmbito desta iniciativa até ao final de 2024?

O programa “Portugal – España. 50 años de cultura y democracia” faz parte da oitava edição da Mostra Espanha, o festival bienal da cultura espanhola promovido em Portugal pelo Ministério da Cultura, que, entre Setembro e Novembro, desenvolve um extenso programa de mais de 40 actividades culturais em diferentes cidades portuguesas, com o objectivo de mostrar o dinamismo e a criatividade das indústrias culturais espanholas na actualidade, incluindo música, teatro, artes plásticas e, claro, cinema. Dada a extensa agenda, o melhor é consultar as actividades aqui.