O CORAÇÃO DAS ARTES E DOS ARTISTAS REVELA-SE NA SECÇÃO HEART BEAT DO DOCLISBOA 2024

A música e o palco, o cinema e os seus mestres, a poesia, a fotografia, a moda e a cultura popular portuguesa, tudo cabe no coração pulsante do Doclisboa 2024: a secção Heart Beat. Peaches Goes Bananas, de Marie Losier, abre a programação com uma viagem ao backstage da artista electropunk, acarinhada pela forma como põe o corpo e a sua liberdade no centro da sua arte; e Devo, de Chris Smith, retrata a carreira quinquagenária da banda synth-pop americana, pioneira na música e no videoclipe, através de entrevistas e imagens de arquivo. Num registo diferente, Before It’s Too Late, de um velho conhecido do festival, Mathieu Amalric, faz a sua estreia internacional do Doclisboa, seguindo de perto o Emerson String Quartet durante a gravação do seu derradeiro álbum, Infinite Voyage, após 47 anos de carreira.

A música continua com Blur: To the End, de Toby L., que acompanha a nova reunião da banda de culto liderada por Damon Albarn, e a gravação e concertos do seu mais recente álbum, The Ballad of Darren. Pavements, de Alex Ross Perry, mostra a banda indie rock Pavement a preparar-se para a sua reunion tour esgotada de 2022, enquanto acompanha a criação de um musical baseado nas suas canções. As guitarras tomam conta da tela em Diário de Estrada: Bruce Springsteen e The E Street Band, de Thom Zimny, filme que cruza imagens de ensaios, momentos de backstage e testemunhos de um dos reis do rock, e que o Doclisboa exibe dias antes da sua chegada à plataforma Disney+, a 25 de Outubro. Viajando por diferentes sonoridades, a programação Heart Beat aterra em Luiz Melodia — No Coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, obra sobre a vida e o trabalho do cantor e compositor carioca, narrada na primeira pessoa.

Heart Beat põe o cinema a olhar-se ao espelho e revela o percurso de um dos nomes maiores da animação em Miyazaki, Spirit of Nature, de Léo Favier, com enfoque nos valores ecologistas que guiaram a carreira do criador de personagens tão inesquecíveis quanto Totoro (O Meu Vizinho Totoro, 1988) ou Chihiro (A Viagem de Chihiro, 2001). De França chegam mais dois filmes. Jacques Demy, the Pink and the Black, realizado por Florence Platarets e Frédéric Bonnaud. Da dúvida e da adversidade, o autor de Os Chapéus-de-Chuva de Cherburgo (1964) faz emergir a sua visão do cinema. François Truffaut, My Life, a Screenplay, de David Teboul, revela arquivos e imagens inéditas do mestre francês numa viagem com o seu velho confidente Claude de Givray meses antes de morrer. Já Looking for Robert, de Richard Copans, leva-nos ao universo, aos gestos e às práticas do realizador Robert Kramer, com quem Copans trabalhou durante duas décadas.

Jacques Demy, the Pink and the Black, de Florence Platarets e Frédéric Bonnaud

A moda é uma forma de arte e High & Low — John Galliano, de Kevin Macdonald, mostra o mundo de John Galliano, um dos mais aclamados e controversos designers de moda dos últimos tempos. Filme-testemunho, conta com entrevistas ao estilista e a nomes como Naomi Campbell, Kate Moss e Anna Wintour. Dos holofotes das passarelas, viajamos até à reclusão da pequena cidade de Cesena, casa do fotógrafo que dá título ao filme que o Doclisboa recebe em estreia mundial: Guido Guidi Lives in Hiding, de Paulo Catrica. Há mais de 40 anos que Guidi fotografa com um olhar distinto as coisas comuns, enquanto vai construindo um arquivo que é o retrato de uma Itália rural e suburbana.  A secção Heart Beat apresenta ainda Ricardo Aleixo: Afro-Atlântico, de Rodrigo Lopes de Barros. De Boston ao Rio de Janeiro e a Belo Horizonte, o realizador experimenta com diferentes formas de gravação de vídeo e serve-se dos poemas, da voz e do corpo do autor brasileiro para explorar a sua condição periférica e afro-brasileira.

Na produção portuguesa, destaque para a estreia mundial de O Voo do Crocodilo — O Timor de Ruy Cinatti, de Fernando Vendrell, olhar sobre a relação — afectiva, etnográfica, artística — que Cinatti desenvolveu com esse país distante e que acabou por definir o curso da sua vida. Há também dois filmes, curiosamente feitos por pai e filho. Ressaca Bailada — Filme Concerto, realizado por um dos guitarristas dos Expresso Transatlântico, Sebastião Varela, também em estreia mundial, é a transposição visual de uma narrativa de muitos formatos rodada num castelo em ruínas, com personagens que deambulam ao som das faixas do álbum Ressaca Bailada, num movimento de celebração e questionamento da tradição cultural portuguesa. Já O Diabo do Entrudo, de Diogo Varela Silva, leva-nos a uma das mais antigas tradições de Carnaval em Portugal, o Entrudo de Lazarim, e a tudo o que envolve os Caretos, desde a elaboração das suas máscaras e trajes às dinâmicas de género geradas pela tradição e passadas entre gerações.

O Voo do Crocodilo — O Timor de Ruy Cinatti, de Fernando Vendrell

Finalmente, Turn in the Wound, de Abel Ferrara, com Patti Smith e Soundwalk Collective, mostra a guerra contada na primeira pessoa por gente comum, numa carta visual e musical de apoio ao povo ucraniano.

O programa completo do Doclisboa será apresentado em conferência de imprensa a 1 de Outubro, pelas 11h, na Culturgest.