Há ligações muito fortes com o teu filme anterior, Flor Azul (estreado no Doclisboa 2014). De que forma situas o Terra que Marca no teu percurso enquanto realizador?
Terra que Marca surge depois de Flor Azul. Ambos foram filmados no mesmo lugar e surgem do mesmo impulso, no entanto a relação que se cria com cada um deles é diferente. Há também uma outra forma de trabalhar a matéria a revelar algo sobre si mesma.
O som tem um papel de extrema importância na construção da narrativa, na tensão criada em cada plano. Podes falar-nos um pouco do trabalho que fizeste a este nível?
É um trabalho muito concreto e abstrato de explicar. O som exige-nos atenção ao detalhe em cada plano. Ao longo do movimento do filme, para além da ação concreta da imagem, outros elementos da natureza – personagens do filme – têm algo a transmitir. A experiência com a terra, dos momentos de escuta, também levou ao silêncio que, em contraste com as máquinas, as enxadas e o toque na terra, cria uma perspectiva sonora distante, às vezes noutra escala, nem sempre humana. Após o trabalho de som directo e recolha de ambientes, foi determinante o trabalho de montagem de som e mistura, para concretizar cada pormenor.
Como se filma algo que é familiar, construindo nele um mistério com a câmara e com a montagem?
Apesar de muitos dos lugares onde filmei me serem familiares, sou deslumbrado todos os dias pela natureza. Existem muitas maneiras de comunicar e na experiência com a terra, a palavra é a menos útil. O mistério resulta dessa falta de informação, do desconhecido e da escuridão. Tudo elementos essenciais ao cinema. À medida que ia filmando tornei-me mais familiar ao mistério que na montagem acabou por se revelar.