Um de teus primeiros filmes chama-se “Orfeu”, onde o próprio filme e a câmara se tornam orfeus. “I Saw” é uma visita melancólica ao passado, ao mesmo tempo muito recente, mas parece infinitamente distante do hoje. Como vês estas imagens, depois de deixares a Rússia?
Agora é mais doloroso que nunca, porque não posso voltar nem fazer nada além um filme feito de arquivo de um passado distante.
Graças a ti, já conhecemos os músicos underground de “A Lazy Comet”, como o Doclisboa mostrou no ano passado na trilogia “Narodnaya”. Documenta-los tal como Andy Warhol registava a vida na sua “Factory”. Vês este novo filme como uma espécie de post-scriptum desse ciclo?
Podemos dizer que sim, este é o último “flash” que registei, mas espero que não seja o fim.
“I Saw” parece um filme muito espontâneo e improvisado. Qual foi o sentimento mais importante que tentaste capturar no encontro desses músicos que te motivou a trazer a câmara? Um acto de amizade? Uma acção coletiva e união? O pequeno milagre da arte criada de raiz?
A minha principal motivação foi voltar a ajudar os meus amigos, fazendo um filme. Fiquei feliz ao ver o processo de criação de nova arte e mostrá-la ao público.
Mas montei este filme já em Paris em julho, e a minha principal motivação foi voltar a inspirar Gosha, lembrando-o desse lindo milagre da arte que fizeram no outono passado. Para lembrá-lo de que é músico, porque havia mais de meio do ano que não tocava. Trabalhava num restaurante local como cozinheiro e não tinha tempo para trabalhar em novas músicas. E eu inspirei-o novamente. Já é alguma coisa.
NÃO À GUERRA.